“Andarilho II” (Luiz Henrique) Estava sem eira nem beira No bolso - nenhum vintém. Teso, duro, tosco e nada além ... O mundo parecia nublado, Nenhum específico desejo, Sentimento nem bom nem ruim ao ensejo. Segue adiante andarilho! Não dê à razão espaço ou azo: Cumpre à ti unicamente a trilha do acaso Dificilmente irás encontrar, Se pelo delírio da tua loucura, Sequer sabes a quem (ou o que) procura. Se não sonhas com o amor, Uma noiva virgem e casta, É porque a tua solidão te basta. Se amanhã não tiverdes alimento, Aceitará decerto aos favores sem culpa. Tua desavergonhada humilhação a tanto faculta. Essa barba mal tratada, (Pelo que te alcunham vagabundo) Faz teu olhar mais belo, sábio e profundo. Bem te livras das intempéries, Nesse caminhar sôfrego e torto. A morte já não assusta a quem vivo está morto. Se fostes lançado ao vôo, Como um pássaro sem ninho, Quiçá Deus dará direção ao teu caminho. Dê guarida à tua demência Para que da tua própria dor, dê risada Tua vida – tal qual a minha - é quase nada ---------------------------------------------------------- Foto: Victor Melo ---------------------------------------------------------- Luiz Henrique Noronha
Enviado por Luiz Henrique Noronha em 09/11/2010
Alterado em 09/11/2010 |