Luiz Henrique

Talvez por teimosia ou puro exercício de fé, ainda acredito na natureza humana ...

Textos



“Rique”
(Luiz Henrique)

 
Vez por outra me ponho a lembrar
Daquele menino levado da breca
Correndo pela Vila a me esperar
Com olhar saudoso, sorriso sapeca
 
Andou precocemente, custou a falar
Depois que falou aí disparou de vez
Era um tal de sobre tudo indagar
Os “por ques”, os “de ques”, os talvez
 
A manha, a cólica, os dentes
O colo, os galos, a pirraça, o carrinho
A virose, a febre entrementes
A noite em claro de cuidado e carinho
 
Nem acredito que o tempo passou
Tão rápido que eu mal me dei conta
No tombo de bicicleta, caiu e rolou
Engoliu brinco, com rosca e ponta
 
Teve um soluço a não mais se conter
E daí pra frente seu gargalhar apavorava
O Dr. até disse que poderia morrer
Por horas a fio a tal crise não passava
 
Deu trabalho, mas também muita alegria
Na rua, invocado, quase sempre “marrento”
Na escola, que o digam as freiras da abadia
As reuniões com professores, um tormento

Era um tal de subir o Alto da Boa Vista
Pra ouvir das irmãs a mesma ladainha
Seu filho fez isso, aquilo, um anarquista
Eu censurava e perdoava o sacaninha

Um pouquinho maior, foi alcunhado "Pingo"
Nem sei exatamente qual a razão ou o porque
Era assim chamado no sábado e domingo
No Sitio Bom fez lendas de ninguém esquecer 

Queimaduras, reclamações dos guardas
Tombo de moto, kart e mil conquistas
A todas seduzia: recatadas ou ousadas
Fossem "de ficar" ou sentimentalistas

Uma vida inteira não cabe em poesia
Um amor incondicional não há como definir
Tentar descrever seria inconteste heresia
A aventura da criação, do chorar, do sorrir 
 
Mas que seria da minha vida insignificante
Sem o amor e carinho desse meu filho varão
Talvez a única boa produção deste poeta errante
Tenha sido este grande companheiro e amigão
 
Saiba que tê-lo como filho me envaidece
Me orgulha e proporciona satisfação
És um espartano guerreiro, não arrefece
Tem caráter, sabe pensar, tem opinião
 
Não tenho muito que te deixar
Meu patrimônio é o pouco que sei e te ensino
Mas o tantão que eu te possa amar
É meu único e maior legado, meu amor de menino




  • poesia com registro de autoria
  • imagem: Autor e filho - arquivo pessoal



Luiz Henrique Noronha
Enviado por Luiz Henrique Noronha em 11/06/2009
Alterado em 10/07/2009


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